EMPRESAS FAMILIARES, BENEFÍCIOS E DESVANTAGENS
Rénan Kfuri Lopes
As “empresas familiares” ocupam a maior parte dos negócios mundiais.
A empresa familiar mais antiga é um hotel de águas termais, criada nos idos de 1.630 no Japão: o Nishiyama Onsen Keiunkan, fundado em 705 – quase 1.200 anos antes de Cabral aportar por aqui. Neste ano, o estabelecimento celebra seu 1.313º aniversário. E lá se vão 52 gerações da família Mahito administrando o negócio.
No Brasil o tema das “empresas familiares” é pesquisado há muito tempo e hoje há uma vasta literatura. Nos Estados Unidos e Portugal, por exemplo, há cadeiras especializadas nesta matéria, a “Family Business”, o que resulta num aprimoramento da concepção enriquecendo a compreensão para os participantes.
O ideal seria que os jovens tivessem experiências anteriores fora da empresa familiar para aprender a ter chefe, seguir horário, saber que pode ser injustiçado e lidar com as mais variáveis situações do cotidiano. Com isso trazer tecnologia de gestão, sabendo discernir o que poderia acrescer à sociedade familiar. Entretanto, isso não ocorre em 95% dos casos.
Estima-se que 85% das sociedades do Brasil são familiares e na Europa em torno de 75%.
Um ponto vantajoso e comum se dá em relação às redes de terceiros fornecedores e prestadores de serviço, comumente constituídas dos membros da mesma família.
Outras características benéficas são a de reinvestir o seu resultado no próprio negócio; gerar mais empregos e não fazer cortes de funcionários mantendo-os por mais tempo, ao contrário daquelas não familiares.
Estatisticamente empresas familiares, geralmente, têm grande dificuldade de sobreviver na troca de controle e administração da primeira para a segunda geração. O resultado positivo nesta transposição é de apenas 1/3 que prosseguem regularmente suas atividades; o restante é vendido, fechado ou se dá destino diverso.
Os principais conflitos nas empresas familiares são entre irmãos ou entre pais e filhos.
Com relação aos irmãos há um componente interessante, porque são criados desde a infância para ser irmãos e não sócios.
Já quanto aos pais e filhos é uma relação entre criador e criatura[1]. Não é fácil e muito menos automático fazer o processo sucessório, jurídico, financeiro ou de gestão. E a dificuldade se acentua se acentua sob o ponto de vista comportamental.
Se o pai sai da sociedade por opção ou falecimento, usualmente os filhos continuam se sócios ou sucedem, mas pensando que ainda são só irmãos. A sociedade nessa circunstância é de certa forma “imposta” aos filhos, e isso, de fato, é um grande problema.
Basta um simples raciocínio indagativo: “Você escolheria o seu irmão para ser seu sócio?…Ele entende do negócio ou detém capacidade técnica?…Ele tem jogo de cintura para gerir os conflitos?”
Na empresa familiar não há oportunidade da opção de escolher, pois no quadro societário está consolidado pelo grupo de irmandade advindo pelo curso do tempo.
A sucessão empresarial não pode ser encarada como um evento [que passa e ninguém mais percebe], mas sim um processo de transição, no sentido de ser consolidada ao longo do tempo preparando os herdeiros para quando ocorrer haja cooperação e não competição.
Não há outro caminho senão a profissionalização dos membros familiares na condução dos negócios.
Necessário respeitar o ente jurídico com o propósito maior do empreendimento, em detrimento de percepções pessoais muitas vezes bem próximas das vaidades individuais. A comunicação tem de ser fluida, corrente, transparente e se necessário buscar uma mediação externa para reduzir os atritos.
Treinar para que possam atuar assertivamente no mercado da atividade, que pensem estrategicamente, tenham competência e não ajam acomodando cargos a pessoas próximas. É o “Planejamento da Empresa e da Família”.
Detalhe significativo e favorável quando presente alguém com a capacidade de criar uma harmonia entre as pessoas. Não se pode exigir que os integrantes se amem, mas atenua um convite para jantar, festas natalinas e encontros em happy hour. Previdentemente, diminuem a possibilidade de conflito. Por outra, na falta ou se porventura essa pessoa se desinteressar nessa atuação conciliatória, o resultado poderá ser aterrador, ocasionando a desagregação, divisão e dispersão dos sócios.
Noutra ótica, os bons funcionários que vêm os sucessores disputarem com ganância o comando da empresa, possivelmente pegarão seus currículos e buscarão outros caminhos. E perdendo os melhores funcionários pela instabilidade diretiva, a empresa tende a cair.
Em resumo, sugestões para manter uma empresa familiar sadia:
- Deixe as regras claras através da governança cooperativa, estabelecendo o conjunto de práticas, normas e processos que regulam a maneira como a empresa será gerenciada e controlada. Nela estabelecendo as diretrizes de atuação da organização para garantir uma conduta transparente, ética e responsável;
- Faça um bom planejamento nos seus investimentos;
- Tenha controle financeiro e seja prevenido para as crises;
- Evite a concessão de privilégios a membros da família, pois afeta a produtividade e os resultados;
- Realize uma sucessão antecipada e progressiva, treinando e colocando à prova a capacidade dos sucessores;
- Não misture relacionamentos com a vida profissional, deixando claro que os negócios não definem questões familiares;
- Entenda a importância da profissionalização do negócio e siga às regras atualizadas do setor;
- Aposte na capacitação gerencial para os líderes;
- Dê espaço à inovação tecnológica.
[1] Mary Shelley, entre 1816 e 1818, para o livro “Frankenstein, or the Modern Prometheus” conta a história que Frankenstein vivia num idílio familiar em Geneva, até que desenvolveu um interesse por alquimia na juventude. O seu pai quanto um de seus professores universitários menosprezam esses livros de química antiga, o que serviu de incentivo para que Frankenstein, por despeito, se debruçasse sobre eles como forma de contrariar e mostrar força perante seu genitor. Aos poucos, Frankenstein perdeu todo o contato exterior – família, amigos, professores – e se dedicou exclusivamente aos seus experimentos. No ápice de sua loucura criativa, ele monta um homem gigante a partir de pedaços de cadáver e o traz à vida.